resolvi iniciar o ano escrevendo um pouco sobre “o que resta de nós”, minha primeira leitura iniciada e terminada em 2025 - terminada foi “somos todos adultos aqui”, da emma straub, que inclusive merece uma menção honrosa.
eu gosto muito das leituras de verão e mais ainda das de recesso, porque são livros que me acompanham na praia, no meio da tarde ou em outros horários excepcionais (pré ou pós algum cochilo rsrsrs). essa é uma época do ano que busco ler coisas bonitas. afinal, a rotina já exige o compromisso e esforço de estarmos sempre com os olhos abertos para ver beleza nas coisas, então nesses períodos de descanso, quero que a beleza esteja escancarada.
“o que resta de nós” foi um presente de natal do meu noivo, que sabe que tenho um gosto especial por escritores franceses. a autora, virginie, é de bordeaux, cidade em que cresceu e mora até hoje. uma curiosidade é que o nome do livro remete ao álbum Il nous restera ça, do Grands Corps Malade.
em seus agradecimentos, virginie explica que quando começou a escrever esse livro já pretendia que ele fosse sobre encontros. ela cumpre esse objetivo de uma forma muito bonita, sem romantizar excessivamente que alguns deles podem ser provocados por momentos profundamente dolorosos, como quando saímos de um lugar que nos faz mal e vamos parar em um que nos agrada, encanta e salva de alguma forma. nesse livro ela escreve sobre três estranhos que acabam morando juntos e se tornando família: Jeanne, uma recém viúva, Iris, uma mulher que precisou entregar o apartamento que morava de última hora, e Theo, um aprendiz de confeiteiro que não se permite sonhar.
refleti muito no ponto de que, se algum desses três não tivesse deixado uma fresta aberta para descobrir o que o outro poderia lhe proporcionar, talvez teriam sido todos apenas co-habitantes e haveria um universo de coisas que não descobriram sobre o que poderiam se tornar juntos.
muito já foi escrito e produzido sobre esses encontros despretensiosos que se tornam algo mais, mas quase sempre com um cunho romântico, aquela coisa de encontrar o amor da vida enquanto atravessa a rua, na fila de uma padaria ou em um ônibus. “o que resta de nós” fala de outro tipo de encontros, igualmente valiosos: encontrar amigos-família e, de certa forma, a esperança.
para além do livro, esse tema tem me rodeado porque venho pensando muito sobre as pessoas que me fazem ser quem eu sou, mas também sobre as que já fizeram parte da minha vida e por n motivos não fazem mais. sabe? essa coisa dos distanciamentos, mas também das aproximações genuínas. há 3 anos atrás algumas pessoas eram completas desconhecidas, mas hoje são parte fundamental de quem eu sou. o contráro também é válido: algumas pessoas me inspiravam muita confiança e hoje não inspiram mais. no hard feelings, só a vida acontecendo.
sei lá, acho que no fim do dia é importante estar aberto para se surpreender nas dinâmicas e trocas com as pessoas, inclusive sobre novas dinâmicas com as mesmas pessoas. esse livro me ensinou um pouco sobre ser permeável¹ aos encontros - e talvez essa seja uma das minhas resoluções para esse ano.
O mais importante e bonito do mundo, é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando.
Guimarães Rosa
¹ eu ouvi essa expressão “permeabilidade à vida” no último episódio de 2024 do podcast No Espelho, da Manuela Xavier.
EXTRA:
aqui minha lista de leituras de 2024, caso alguém esteja buscando recomendações:
umbandas: uma história do Brasil, luiz antonio simas
o parque das irmãs magníficas, camila sosa villada
a máquina de fazer espanhóis, valter hugo mãe
belo mundo onde você está, sally rooney
qual é o seu legado? marlon reikdal
sobre a terra somos belos por um instante, ocean vuong
the writer who never felt love: a story, bia sobreira
o mapa do céu na terra, carla miguelote
a cabeça do santo, socorro accioli
te vendo um cachorro, juan pablo villalobos
cartas a um jovem terapeuta, contardo calligaris
talvez você deva conversar com alguém, lori gottlieb
canção para ninar menino grande, conceição evaristo
vamos comprar um poeta, afonso cruz
a chegada da escrita, helene cixous
não fossem as sílabas do sábado, mariana salomão carrara
oração para desaparecer, socorro accioli
knulp, hermann hesse
Um último aviso aos navegantes, estou oferecendo o serviço de assessoria acadêmica para estudantes da graduação, um atendimento individual voltado para a escrita de artigos e/ou trabalhos de conclusão de curso. Meu objetivo é auxiliar no desenvolvimento de projetos de pesquisa, delimitação do tema, criação de cronograma para o trabalho, além de um acompanhamento minucioso do processo de escrita. Senti uma falta imensa dos momentos de troca que co-orientações e monitorias já me proporcionaram e estou muito feliz podendo voltar a trabalhar com ensino, escrita e pesquisa.
Se precisarem ou conhecerem alguém que precise deste serviço, meus contatos são: pietra.linacio@gmail.com e @pietrainacio (instagram).
um beijo e até a próxima.
pietra inácio
que lindo 🩵